Fichamento do livro "Lições de Arquitetura"
O livro se inicia definindo os conceitos de público e privado, criticando a concepção de que essas ideias são extremas e opostas. Dessa forma, Hertzberger usa exemplos para representar a gradação das demarcações, diferenciações e zoneamentos territoriais. Percebe-se, através de uma análise cuidadosa, que as características espaciais e arquitetônicas de cada lugar marca graus de acesso e determina as responsabilidades de manutenção e uso do ambiente, o categorizando como mais público ou mais privado. Nesse sentido, quem pode usufruir e modificar o espaço pode ser garantido por leis, mas é muito comum que essa concepção de público/privado seja somente uma convenção, respeitada pela população. Sendo assim, o público e o privado são ideias que apresentam grandes nuances, especificidades e variações, visto que são determinadas por símbolos físicos e pelo próprio uso social de cada espaço. Um exemplo que deixa claro que a divisão entre público e privado não deve ser (e não é) drástica é a existência de intervalos, ambientes de transição que combinam elementos do público e privado, trazendo múltiplas funções e atendendo igualmente o público de ambos lados.
Tendo isso em vista, é fundamental para Hertzberger que o arquiteto estude a divisão de responsabilidades nesse mundo definido pelo público e privado, a fim de promover medidas que incentivem os moradores a trazer suas próprias contribuições para o ambiente em que eles vivem. O autor destaca que a relação direta com a organização espacial e apropriação do espaço (ainda que esse seja público e compartilhado, mas de responsabilidade de uma única pessoa, como uma mesa de um escritório) é necessária para criar uma sensação de segurança e pertencimento. Precisamos, como seres humanos vivendo em conjunto, de um "ninho seguro", que define uma individualidade mesmo em no ambiente público, onde podemos nos identificar e nos relacionar.
Portanto, a arquitetura deve contribuir para a interação entre a pessoa e o espaço, entre comunidade e espaço e entre pessoas no geral. Para que isso ocorra, ela deve se adaptar ao uso real das coisas, se atentar à vida cotidiana e a aspectos sociais das pessoas da região onde planeja-se construir. O espaço deve ser convidativo para o uso, além de incentivar sua própria alteração para se adequar ao perfil de cada "habitante". Isso porque, o espaço só pode se adequar plenamente ao cotidiano de cada pessoa ao ser "moldável" por aquele que nele vive. Conclui-se que a arquitetura não só tem o propósito de beleza e funcionalidade, mas também deve atender necessidades sociais, emocionais e individuais, a fim de ser não apenas um meio para a vida, mas um espaço físico que desperta sentimentos de conforto e que fortaleça o senso de comunidade da sociedade.
Demais conceitos explorados no "Safari":
- Flexibilidade e funcionalidade (o espaço pode se atender diversas funções sem sofrer grandes mudanças):
- Gradação do público e privado (existem aparelhos que tornam a separação entre espaços de diferentes acessos mais "limpa", como o uso de vidro, que permite a visão tanto do interior - privado - quanto do exterior - público):
- Incentivos (uso do espaço de uma forma não planejada inicialmente pelo arquiteto, sendo adaptado pelos próprios usuários) e Polivalência (ambiente flexível para alterações que solucionam problemas):
- Intervalo:
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